Há alguns anos, durante uma sessão de psicoterapia, ouvi a seguinte expressão: “Quem ama, solta!” Confesso que essa expressão foi como uma bomba em tudo o que eu estava experimentando em meu relacionamento na época. Pois pensar sobre amor e liberdade era algo tão desconecto em meu ser; sentia-me uma criança tateando um novo brinquedo e, não tinha a menor noção de suas possibilidades, e o pior: temia descobrir…
Lembro que, ao sair da sessão, meio que concomitantemente eu cantava silenciosamente:
“Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você… não é me dominando assim, que você vai me entender…” (letra da música SERÁ do Legião Urbana).
Sobre amor e ser livre
Começo esse texto com essa lembrança porque me sinto impelida a convidá-los a pensar “fora da caixa” sobre amor e ser livre, conceitos que geralmente não se comunicam devido às características socioculturais sobre o amor e o amar.
Esse convite foi-me feito por um mestre em Tantra (Ronald Fuchs) há dois anos. E, aqui, hoje eu o estendo a fim de envolvê-los e levá-los a refletir sobre as possíveis dinâmicas dos relacionamentos e seus modelos (como um ser busca um outro ser para convívio diário, em nome de exercitar um amor).
Num período não tão distante podemos observar um feminino e um masculino condicionado e limitado. Ou seja, o homem como o provedor (o famoso “Bom Partido”) e, a mulher como a recebedora (a famosa “boa para casar”).
Nesse modelo, o conceito entre amor e liberdade era mais bem empregado ao masculino. Pois o fato de o homem deter o provento, isso também lhe trazia poder, limitando o feminino a um “lugar” submetido, abrindo espaço a uma dinâmica essencialmente baseada na COdependência.
Nesse modelo, o masculino trazia uma dificuldade de abertura para as emoções, pois a demanda era para que se mantivessem caçadores/provedores. E, o feminino trazia uma dificuldade com relação ao poder, vivendo/expressando suas emoções somente através de suas habilidades com a casa e com os filhos. Nesse modelo, o impulso sexual da relação era do masculino.
Por volta dos anos 50/60, num movimento emancipatório e revolucionário (aqui sustento a palavra no sentido de constante RE-EVOLUÇÃO), o feminino faz movimentos de busca de formação profissional e independência financeira. Revendo assim sua relação com o poder. Com isso, ocorre uma transformação na dinâmica das relações alterando o modelo de COdependência para INdependência.
Nesse modelo, o feminino se eleva e reforça intelectualmente e, arrisco a dizer que, a preocupação básica tornou-se “ninguém precisar de ninguém”. Uma vez que ambos, feminino e masculino se bastam num funcionamento próprio, alterando também o impulso sexual das relações, limitando o quesito interação, ampliando o quesito negociação: Tudo programado, nada improvisado (ambos reprimidos no próprio modelo).
Como pessoa e profissional, em minhas conexões sinto que a busca na atualidade é de um novo modelo:INTERdependência! No desafio deste novo modelo, o impulso sexual se transforma e convida ambos, feminino e masculino a novos posicionamentos, abandonando as remotas formas e se mesclando…
Como? Por meio da qualidade das presenças e da entrega ao novo, permitindo a desconstrução de modelos polarizados… reconhecendo nossas necessidades e oferecendo nossas disponibilidades, entrando em “rendição” para que haja “conexão”, pois na INTERdependência, no feminino há o masculino e vice-versa.
Encerro esse texto com outro verso da música SERÁ, pois nele encontro a possibilidade deste novo modelo se manifestar num futuro próximo: “Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação… Serão noites inteiras talvez por medo da escuridão… Ficaremos acordados imaginando alguma solução… Pra que esse nosso egoísmo não destrua o nosso coração!”.
“Só se pode amar o imperfeito. O homem e a mulher precisam um do outro”. Bert Hellinger
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