No futuro vai haver assédio sexual? [+18]

Circula pelas redes sociais um post com uma foto manipulada de Meryl Streep, sentada na plateia de um pomposo teatro com poltronas de veludo vermelho, completamente sozinha. No texto, a legenda: “Oscar 2017 depois da divulgação dos casos de assédio sexual em Hollywood“.

A reflexão sarcástica pode realmente ser transportada do virtual para o real. As acusações de assédio sexual saíram do armário e espocaram como uma praga. Uma praga que esteve incubada nos corpos silenciosos que foram atacados por ela.

Por definição semântica, impressa friamente nos dicionários que circulam por aí, assédio se caracteriza por uma insistência impertinente, por provocar constrangimento em alguém com intenção de obter favorecimento sexual.

Constrangimento.

Eu me pergunto e te pergunto: Se as pessoas tivessem mais consciência do seu próprio corpo e dos corpos dos outros, do seu desejo, e se não tivessem nojo de pinto, de porra, de buceta, de menstruação… será que casos de constrangimento sexual seriam tão comuns? Se você não se sente constrangido/a com uma pessoa se masturbando na sua frente, então não há assédio sexual. Certo?

Quando eu tinha uns cinco anos, um tio-avô, de uns 50 anos, me acariciou no tórax, na parte onde eu teria seios (mas com cinco anos eu ainda não tinha nem projeto deles), enquanto eu me embalava numa cadeira de balanço. Eu não me senti constrangida. Senti-me acarinhada, aceitei o carinho até que balançar na cadeira ficou chato e repetitivo e, então, saí correndo para brincar de outra coisa.

Não fiquei traumatizada, por mais que os psicólogos de plantão e as feministas venham me dizer que eu tenho a libido à deriva, e portanto sou louca, por causa desse episódio. Eu não sou louca, eu sou feliz! Em algumas sociedades “civilizadas” isso é a mesma coisa…

Ele não me agrediu, não me ameaçou dizendo que seu eu falasse alguma coisa pra alguém ele me espancaria, me mataria, mataria meus pais. Sim, está na minha memória, mas como uma coisa boa. Que eu gostei. Não que eu tenha ficado chocada, com medo.

Ah, mas você lembra! Se lembra imprimiu uma cicatriz, te machucou“, muitos diriam. Não machucou, eu lembro de muitas coisas — mas muitas outras coisas da minha infância e curioso que nada, absolutamente nada, é ruim — e eu gosto de cicatrizes — como não tenho nenhuma, eu fiz noves tatuagens. Cicatrizes são histórias. E histórias transformam ninguém em alguém.

Atitude noturna

Já passaram e passam a mão na minha bunda na balada. Não me senti e não me sinto assediada. Porque eu gosto que passem a mão na minha bunda. Em público, eu também passo a mão na bunda dos meus objetos de desejo. Eu não acho que é assédio sexual. Como eu gosto, muito, pra mim é carinho.

Eu não sou agressiva e também não são comigo. Eu demonstro que gosto do toque na minha atitude noturna. E se alguém se empolga e me empurra na parede para me dedar? Se eu estiver no mood, vou cair pra dentro, apertando o pau do candidato com meaning, mas sem violência — sorry, eu gosto só de meninos.

E se eu não estiver no mood, eu vou mostrar que não estou a fim de avançar para o próximo andar. E se demonstrar não for suficiente, se ainda não tiver obtido entendimento, eu vou usar as mãos e deixar bem claro.

Eu sei me defender, não sou uma princesa encastelada. Eu vou às ruas, eu conheço pessoas. Eu vivo! Não fantasio.

Eu tenho o mapa da minha mina.

E por que eu não tenho constrangimento?

Porque eu sei onde fica meu clitóris, onde fica e pra que serve o meu desejo. Eu não me assusto com um pinto duro batendo na minha cara. Eu gosto. Sexo não é sujo, do demo, doentio, perigoso. Sexo é vida! Eu quero.

Meu corpo é meu, mas não é sacro. O corpo sacro da mulher, a concepção de uma criança sem sexo são ideias imposta às mulheres pela igreja católica para calar o desejo feminino, que é superhipermegablaster poderoso, e que, até hoje, preocupa os homens que não o entendem e aí criam essas regras, esses filtros, esses conceitos, essas violências.

As mulheres têm sim vergonha de seus corpos e de seus desejos e do desejo dos outros. Por isso não lidam bem com isso. Por isso se sentem agredidas por isso.

Muito pior, mas muito pior mesmo que o constrangimento sexual é o constrangimento moral que é muito, mas muito mais comum e muito mais aceito nas sociedades espalhadas pelo mundo.

Eu usei meu exemplo, o modo como eu lido e encaro o sexo porque espero, sinceramente, inspirar mulheres a se libertarem dessa “burca católica”. E assim espero que, num futuro próximo, o assédio sexual desapareça. Suma dos escritórios, dos ônibus, dos confessionários, dos consultórios, porque as pessoas estarão mais à vontade com seus corpos e os dos outros e saberão, também, reagir a um constrangimento. E não se calar por anos.

E se seduzíssemos mais, assediaríamos menos. Concordam?

#futurodosexo

No futuro vai haver assédio sexual? [+18]

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Sobre o Autor
- Libertária e humanitária do sexo