Como será o ciúmes no futuro das relações?

Quando falamos em futuro, cada vez mais nos deparamos com grandes negócios trabalhando em cima do conceito de não-posse. O Airbnb, maior hotel do mundo que não é dono de sequer um quarto. O Uber, empresa de transporte que não é dona de nenhum carro. Os exemplos são diversos e nos trazem a um questionamento: quando será que as relações de não-posse serão expandidas também para os relacionamentos?

Ao adentrar o mundo do amor livre, relações abertas e demais formatos que se propõe a fugir do padrão tradicionalmente consolidado de relações monogâmicas, um primeiro empecilho que se enfrenta é o ciúmes. Como conciliar esse sentimento que parece intrínseco às relações a esses novos modelos e formatos? Para tal, vamos primeiro entender o começo.

Como surge o ciúmes nas relações tradicionais?

Vamos conversar sobre a insegurança.

Imagine uma situação hipotética de uma relação tradicional: um homem e uma mulher, ambos se gostam. Invariavelmente, dentro dos ditames sociais, as coisas não são tão simples assim. Para que de fato esse afeto existente se materialize no formato de uma relação, existe todo um passo a passo no inconsciente coletivo que deve ser seguido.

Ele a chama para sair, afinal, o homem deve ter iniciativa. Ambos saem. Apesar da vontade dos dois de dormirem juntos, ela recusa o convite, afinal, uma mulher tem que ser difícil. E essa mesma dinâmica de jogos perdura durante o tempo necessário para que finalmente um relacionamento possa ser estabelecido. E quando for, será que as bases sobre o qual esse realmente se estabelecem realmente são firmes?

Não estou falando aqui de afeto, e sim de segurança. Quantas possibilidades de acumular microinseguranças sistêmicas não ocorreram durante esse curto exemplo? A ansiedade dela de não saber se ele a chamará para sair. A ansiedade dele de não saber se ela recusou o convite por ter causado uma má impressão. Aquela prorrogada proposital para responder uma mensagem.

O exemplo acima é chulo, normativo e estereotipado, mas serve para ilustrar as existentes dinâmicas de poder comumente aceitas, sobre as quais muitos de nós alicerçamos nossas relações. (Vale a ressalva de que essa dinâmica não se restringe a relações heterossexuais, podendo acontecer em relações independentes dos papeis de gênero socialmente ditados).

A questão é, uma vez que ambos tem a sua insegurança a tona no sistema, a melhor solução, seguindo a lógica tradicional, é a relação de posse. Depois de toda uma “batalha” em que a sua autoestima é posta em xeque, o respiro natural é ter a garantia sólida de que a pessoa é sua e exclusivamente sua.

Enfim, um descanso.

Ressalto aqui que tais dinâmicas de poder são exemplos de insegurança construída, ou seja, que o casal em questão constrói junto. Mas, ao mesmo tempo, nem sempre a insegurança é do sistema, as vezes, a insegurança pessoal de uma das partes pode ser a geradora do ciúmes.

Onde eu quero chegar é: havendo afeto, as coisas poderiam ser muito mais simples

Em relações autênticas, temos a liberdade de observar tais hábitos sociais em que a dinâmica ganha-perde está presente e converter essa situação. Muitas vezes a solução está no diálogo. O livro Comunicação Não Violenta, de Marshall Rosenberg, por exemplo, fornece ferramentas e métodos para estruturar melhor esse diálogo, construindo assim relações ganha-ganha, nas quais nenhuma das partes sai perdendo.

Criar espaços dentro de uma relação em que a vulnerabilidade é acolhida, e não recriminada. Espaços em que é possível se afirmar em alto e bom tom o afeto ali presente, assim retirando a insegurança estruturalmente construída. Uma vez que a autoestima de todas as partes está preservada e existe um espaço de acolhimento e afeto, não necessariamente uma relação de posse precisa ser estabelecida.

Espaços de respeito mutuo criam a possibilidade de se explorar outros modelos de relação, outras formas de vivenciar o amor. Consciente de que o sentimento não é escasso e finito de modo que precisemos prender e amarrar ao nosso lado a todo custo para que não fuja. Consciente de que compartilhar mais não significa ter menos para cada uma das partes.

Para mim, a grande beleza das relações de não-posse é a liberdade total de ir e mesmo assim a escolha recorrente de voltar e ficar.

E você, como experiencia a construção, ou desconstrução, dos ciúmes nas suas relações? #boracontribuirfs

Como será o ciúmes no futuro das relações?

| Comportamento, Sociedade | 6 Comentários
Sobre o Autor
- Estudando, construindo e vivendo o futuro do amor abundante.

6 Comentários

  • Míriam Bonora dos Santos
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    Muito pertinente esse assunto!

    Tenho experenciado cada vez mais que a comunicação amorosa e transparente é a chave para relações maduras e gostosas, sem peso. Resolver inseguranças logo de cara, que podem ser só criação da nossa cabeça – a partir de padrões inconscientes, fazem a relação fluir muito melhor e sem ciúmes!

  • Erika Sabrine
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    “a grande beleza das relações de não-posse é a liberdade total de ir e mesmo assim a escolha recorrente de voltar e ficar” é totalmente libertador! Jade obrigada por ter sido concisa com o texto e nos faz enxergar que para algo dá certo é saber respeitar o espaço do outro e tentar trabalhar essa questão da insegurança que nos aflige e faz com que caiamos nas armadilhas do ciúme e acabando com aquilo que é tão bonito.

  • Dalton
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    Olá !
    Hoje vivo um relacionamento semi-aberto, e acredito que encontrei a melhor forma de vencer o ciúmes,ainda dizemos semi-aberto pois há pontos ainda que temos que superar, porém a partir da decisão que tomamos percebemos uma incrível diferença na confiança e aproximação que ganhamos um do outro.

    • Jade Chaib
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      Olá Dalton, fico feliz com seu cometário! Eu também, a partir do momento que comecei a re-significar o ciumes comecei a ter relações muito mais próximas e reais.