Mundo mais complexo = menos previsibilidade
Quanto mais interações entre as partes houver maior, a complexidade de um sistema, logo, uma vez que a tecnologia aumenta o nosso número de interações absurdamente, a tendência natural da evolução do mundo é de se tornar cada vez mais complexo.
Basta pensar: quantos amigos você tem no facebook/instagram hoje e quantos amigos seus pais tinham em 1990? Quantos crushs você teve nos últimos meses e quantos paqueras sua mãe teve na vida?
Com mais interações possíveis, por mais que a gente parta de condições iniciais muito próximas, não é possível determinar um padrão de onde vamos chegar.
Fazendo uma analogia à teoria do caos, se o simples bater de asas de uma borboleta pode influenciar completamente o curso natural das coisas, imagine só um mundo onde temos milhões de borboletas batendo juntas e trombando por aí alucinadamente.
É por aí que estamos caminhando.
“Estamos mudando muito rápido.É doloroso. Não somos o mesmos que éramos no segundo anterior.” Samantha, Her.
Com o aumento da complexidade, aumenta-se as opções de como se relacionar, e também aumenta a velocidade em que nos transformamos internamente. Estamos mudando a passos largos, como então mudar sem assustar o outro?
“Sou sua mas com o tempo me tornei várias outras coisas, não posso evitar”. Samantha, eu, você, o casal apaixonado, o garoto aparentemente solitário, o potencial casal do Tinder, o casal que se relaciona a distância.
Se o mundo está se tornando mais complexo, nós mesmos nos tornamos também mais imprevisíveis, e estar com alguém envolve aprender a aceitar e celebrar essa transformação constante.
E isso é um desafio. É comprovado que nós temos imunidade a mudança, qualquer mudança é uma ruptura e o que rompe dói. Temos medo de mudar, e mais ainda, temos medo do outro mudar. Seria a dor então parte inevitável do amor?
Evolução de consciência
Estamos nos transformando o tempo todo, e ao mesmo tempo, em busca de uma perfeição que somente um bom software de inteligência artificial poderia nos entregar.
Pela primeira vez na história da humanidade, buscamos uma pessoa que será nosso companheiro, nosso amor, nossa paixão, nosso melhor amigo, e temos um cardápio tão amplo de opções que nos imobiliza.
Queremos alguém que reforce o que nós já somos, por isso o trabalho de qualquer algoritmo é nos aproximar do que ele acha que queremos ver ou pessoas que queremos conhecer a partir do nosso histórico. Mas se mudar é inevitável, a frustração vira a única certeza.
E assim, na transição entre o novo e o velho, mesmo com tantas opções para amar, muitas vezes ficamos paralisados e sozinhos. Temos expectativas de viver o amor dos contos de fadas do século passado, padronizado, perfeito, intocável. Um amor baseado em um nível de consciência ancorado em posse, controle, previsibilidade, linearidade.
E a verdade é que vivemos um contexto social e tecnológico que, mais cedo ou mais tarde, quebrará qualquer ilusão que criamos sobre o outro e sobre a perfeição da relação. Um contexto complexo, que exige de nós uma consciência ancorada em outros valores, como fluidez, evolução, propósito, abundância, subjetividade.
E se, não conhecer a pessoa que dorme na nossa cama, fosse uma benção e não um fardo?
E se a não previsibilidade fosse o caminho para a profundidade e o amor?
“Se conseguisse parar de sentir medo não se sentiria tão sozinho mais” Samantha, Her
Abraçando o caos
Quando nosso nível de consciência não acompanha a evolução da complexidade do mundo, ficamos paralisados e perdidos. Mas quando evoluímos, a mágica pode acontecer.
Hoje várias linhas de pensamento já discutem o fato de que nossa racionalidade é limitada, e talvez, nosso vício por inteligibilidade tenha criado mentirinhas sobre a realidade, que nós estamos prontos para quebrar. Instituições falidas que nos disseram como se relacionar, estão pouco a pouco sendo questionadas e quebradas.
E assim estamos fazendo as pazes com nossos sentimentos, nossa intuição, todo nosso potencial humano que foi amortecido em décadas de materialismo e racionalidade. Estamos evoluindo juntos e isso é excitante.
A tecnologia está aí, prontinha para fazer por nós todo o trabalho de lógica, matemática, razão e prática. E assim nos resta ser humanos. Caóticos, bagunçados, loucos, quebrados, defeituosos. Prontos para experimentar, aprofundar, fazer tudo errado, e certo outra vez.
Nós vamos mudar em milésimos de segundos, as possibilidades de relacionamentos serão várias, o caos abre espaço para que a vida nos surpreenda, e o improvável aconteça.
Tem coisa mais assustadoramente bela do que poder viver não uma, mas milhares de relações todos os dias, mesmo que a gente escolha vivê-las com somente um outro ser?
“Eu sou sua e não sou. O coração não é uma caixa que pode ser preenchida. Ele se expande por dentro o quanto mais você ama” Samantha, Her.