Dilemas sexuais da adolescência são problemas atemporais, mas que devem ser tratados com seriedade e como sempre digo, os quais devemos lidar com naturalidade. A série Big Mouth traz o retrato mais cru e irreverente sobre a pré-adolescência e toda a conturbação psicológica trazida por essa fase.
Quem nunca se preocupou com o primeiro beijo, o tamanho do pênis, dos seios, mudanças de altura, menarca, poluções noturnas, a descoberta do sexo e da pornografia entre tantos outros “problemas” nascidos na adolescência?
A Série Big Mouth – lançada em setembro pela Netflix – traz para dentro de nossas casas uma oportunidade de discussão sobre esses temas.
Trazendo o sexo para a telinha da TV
Na história, mostra-se a vida de dois meninos de 13 anos com potencial para serem os “losers” da escola. Enquanto Andrew já atingiu a puberdade, Nick sofre com a expectativa da chegada das mudanças hormonais.
Felizmente, o seriado não recorre a estereótipos bem consolidados para criar a psique e o modo de agir dos personagens. O que realmente faz um grande sentido, já que os protagonistas estão passando pela fase que geralmente define as características mais permanentes das pessoas no futuro.
Um desenho inteligente em formar piadas com biologia humana sem descambar de imediato para a escatologia. De fato, há sim todo o humor escatológico e escroto representado fisicamente pelo Monstro da Puberdade, uma personificação egocêntrica e escrachada dos hormônios que afetam Andrew.
O personagem serve como um guia e guru para Andrew, norteando algumas de suas piores escolhas, pois, obviamente, não são racionais. O interessante é que, apesar de ser uma criatura mitológica e extremamente velha, o Monstro dos Hormônios geralmente acompanha a idade mental dos personagens, somente reverberando os maiores e depravados desejos que ele tem, mas que são podados pelo superego do psicológico.
Aliás, se fossemos comparar em termos da psicologia, o Monstro seria a personificação mais forte do Id, a nossa força de desejos sem freios morais ou éticos.
É claro que possui exageros, mas deixa muito claro e elucida de forma divertida e bem didática que os “monstros dos Hormônios” são diferentes entre meninos e meninas. Mas levanta discussões interessantes, como por exemplo, de sempre parecer que na puberdade meninos são mais “privilegiados” com o “boom” de hormônios e prazeres enquanto as meninas sofrem com dores, cólicas, e absorventes entre as pernas.
Mas falar sobre sexo e puberdade nem sempre é fácil…
Aqui em casa, com dois adolescentes, a resistência foi alta para assistir. Frases do tipo “isso é série para criança” me “acendeu o alerta” para assistir! Porque se o pornô – que é supostamente para adultos – eles assistem, por que a série feita para adolescentes, eles passam longe!?
Depois de ter assistido imaginei o por quê: afinal, quem gosta de ver seus problemas explicitados de forma tão clara, no qual um adolescente não poderá mais dramatizá-los? Para nós, pais, é um forte canal de reforço pelo o que já passamos e não tivemos tais explicações… e pensamos:
“Puxa! passei por isso!” e aí que vale algumas horas na frente da TV, afinal a empatia com a fase dos nossos filhos pode estar adormecida, e a série nos dá essa chance de revivê-las e criar laços empáticos com nossos “futuros adultos” para tirarmos os tabus relacionados ao sexo pelos quais passamos ou “superamos”.
Se quer puxar um papo sobre sexo com seu filho e não sabe como, os episódios possuem nomes bem sugestivos que podem gerar papos e discussões bem bacanas entre vocês! Mais que uma série, um alerta para os adultos que acham que sabem tudo sobre seus filhos ou porque já passaram dessa fase ou porque não a superaram… #boracontribuirfs #futurodosexo
