Envelhecer com (muita) sensualidade

Precisamos falar sobre… Roupa íntima!

Um assunto que a todo momento permeia discussões antropológicas e principalmente econômicas sobre as perspectivas de um futuro próximo é a extensão do prazo de validade do ser humano; um feito da ciência, que, a princípio, causou euforia e felicidade por podermos estender nossas vidinhas por aqui, mas que, nos últimos anos, nos leva ao caminho da desesperança, porque, como sempre, não nos planejamos como deveríamos para aquele momento “e agora?”.

Mas deixando de lado o discurso cataclísmico e me voltando para o foco do nosso fórum de discussão, o sexo, eu pergunto: O que nos reserva o futuro em termos de sexo na terceira idade ou, como os que nela estão dizem, na “melhor idade”?

Considerando os obstáculos em questões simples que essas pessoas já enfrentam agora, a perspectiva é de um cenário distópico para o prazer, ou seja, cinza, nublado e em constante ameaça.

Virando a chave

Porém nem tudo está perdido. Se identificarmos desde já essas dificuldades creio que os sexagenários ativos sexualmente (atenção mercado, eles existem e não são assim tão poucos; afinal o Viagra e o Cialis estão aí para nos lembrar disso) poderão ter uma vida plena e prazerosa por muitos anos ­— claro, se a Previdência permitir.

Sabe-se que um dos grandes pilares do sexo é a sedução. Essa porta de entrada para o mundo do prazer genital e erógeno precisa de várias chaves para ser aberta e uma delas tem a ver com a aparência.

Afinal, o que primeiro se vê antes de se conhecer a alma e a mente de uma pessoa? Seu visual, como ela se apresenta.

Esse assunto vai render muitos posts, mas hoje eu vou começar quase pelo fim: vou falar de lingerie — prometo num futuro próximo falar de cuecas.

Será que o mercado está atento ao desejo de consumo das mulheres maduras e seguras de si quanto ao seu desejo sexual? A resposta é curta, grossa e decepcionante: Não!

Num país ou outro mais civilizado esse assunto é tratado com a devida atenção e estratégia de marketing. Como no microcosmo Nova Zelândia, mais conhecida por emprestar cenário aos filmes da cinessérie O Senhor dos Anéis e por pessoas que se arriscam pulando de pontes, presas por cabos elásticos, do que por sua indústria de moda (íntima ou não) ou por sua vocação hospitaleira, banhada de civilidade e tolerância.

É de lá a marca Lonely que foca sua campanha de comunicação na diversidade total de corpos e idades e em cujo site eu peguei emprestada a foto que ilustra este post: uma mulher de 56 anos (Mercy Brewer) que empresta seu real corpo de 56 anos para uma bela e elegante campanha de moda íntima.

Acredito que estamos em um momento no qual a beleza das mulheres maduras deve ser revelada. Se não reconhecermos que ela existe, é como se estivéssemos negando a existência de um futuro”, disse Mercy em entrevista à revista eletrônica neozelandesa Live & Style, sobre a campanha da Lonely.

Preconceito e desconhecimento made in Brazil

Se o mercado global pouco dá atenção à consumidora madura de lingerie, o local, brasileiro, então… Puff!

Como muita coisa que deve ser tratada com seriedade e respeito, neste país marcado pela intolerância e, portanto, ignorância, é levada no tom de piada ou é tapada com peneira ou, pior, “encarada” com vendas nos olhos — no caso, em terras brasilis, é mais o terceiro cenário. Puff2!

Para elaborar melhor esta pensata — um insight que tive após ouvir a reclamação de uma mulher de 70 anos, sexualmente ativa, sobre a dificuldade de se comprar uma lingerie que fosse sensual, porém sem ser bege ou calcinha fio dental (uma das peças de vestuário mais inadequadas desde a invenção do espartilho) — fui atrás de reconhecidas marcas de moda íntima, como Valisere e Del Rio.

Quis saber, por meio de suas assessorias de imprensa, como elas se dedicavam a esse nicho consumidor.

A resposta que recebi foi: “tu-tu-tu-tu”.

Para uma delas cheguei a ligar (para a assessoria) e dei o azar de cair com a estagiária que me disse que a marca não acreditava que seu produto fosse usado para fins sexuais. Oi? Por que, então, uma marca de lingerie gasta dinheiro e tecnologia investindo nas mais variadas formas de “rendar” suas peças se não for pensando no meio sedução para um fim sexual?

Percebem o problema aqui? Nem é a oferta de peças, porque qualquer mulher pode usar qualquer lingerie, desde que se sinta bem — a própria marca neozelandesa que citei como um oásis em meio a esse árido universo fez sua campanha vestindo sua modelo madura com as mesmas peças que modelos jovens também usaram.

O problema maior está na comunicação das marcas, só contemplando mulheres magérrimas e jovens. E, como qualquer aspirante a marketeiro sabe, a comunicação é ferramenta primordial para se fazer conhecer, para as marcas alcançarem o seu consumidor.

Diante dessas campanhas protagonizadas por “fake consumers“, as mulheres maduras não se reconhecem e consequentemente acham que não têm produtos para elas, mesmo que tenha.

Se liguem, marcas de lingerie, o mundo está cheio de mulheres de 50, 60, 70, e por aí vai, fogosas e com apetite sexual que deixariam mulheres de 20 e poucos com inveja! Se vocês desconsiderarem que elas existem e vão existir em maior número no futuro, vão cair de bunda no chão!

E então, o que você espera do mercado de lingeries para um futuro do sexo não tão distante? Conta para gente nos comentários!

Envelhecer com (muita) sensualidade

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Sobre o Autor
- Libertária e humanitária do sexo