Eu quero escrever sobre a construção social das masculinidades, especificamente, da construção social das masculinidades ejaculatórios em espaços públicos. Ou seja, trazemos, neste artigo, as possíveis lições aprendidas com este episódio bárbaro recente.
Partimos do princípio baseado no mais puro senso comum que afirma de que homens “são assim mesmo”. É o instinto natural! É o estado selvagem do homem aguçado por uma situação onde ele encontra uma mulher. Claro, em uma situação vulnerabilizada pelas condições e por sua herança predatória ele compreende essa mulher como caça, presa ou troféu.
Por esse motivo, no artigo de hoje, trouxemos uma reflexão sobre as masculinidades retrógradas e quais são as possíveis lições aprendidas com o triste episódio de ejaculação em público ocorrido recentemente dentro de um ônibus na capital de São Paulo. Acompanhe:
Masculinidades não são atos sexuais
Na verdade, o episódio de São Paulo, entre todos os outras situações de masculinidades que acontecem todos os dias, não foi um ato sexual. Pois, todo ato sexual deveria ser prazeroso, nutritivo, consensual. Entretanto, quando um ato sexual é só de um, na verdade, ele é um abuso, uma violência, uma agressão, uma vez que não ocorreu a possibilidade de recusa.
Simplesmente esse ser ejaculador socializado em uma sociedade onde o sexo torna a vida das pessoas uma mercadoria. E, no comércio sexual, quando as mulheres passam a ser objetos, a intenção desse ser ejaculador é impor apenas a sua vontade e o seu desejo. Este homem foi educado como cliente, estuprador, agressor de mulheres.
Mas o que me pergunto é onde ele se formou homem? Como ele ainda tem espaço na sociedade? E como outros seres humanos não olham isso como violência?
Sociedade onde o sexo tem um preço para homens
Para começar a me responder tenho que olhar ao meu redor. E vendo o meu entorno percebo que quase tudo, se não na sua totalidade, participamos de uma sociedade onde o sexo tem um preço para homens.
Em contrapartida, para as mulheres o sexo tem outro preço. Vou tentar falar só do preço do sexo do homem. O que faz um homem chegar ao ponto de ejacular em uma mulher é a percepção de que ele pode exteriorizar a sua vontade: porque pagar por sexo com uma mulher se é possível satisfazer-se com uma mulher que ele nunca viu na vida?
Ele não vai perguntar nem o preço. Não tem o trabalho. E ele nem vai querer saber se ela prefere estar em qualquer outro lugar a ali. E que, provavelmente, está nessa situação por ter sido abusada sexualmente por outro homem. Logo, consequentemente, ele não se considera o único, o primeiro, nem o último a fazer isso.
Ausência do sentimento de dor por parte dos homens
Um dos fatores que leva estes homens a ejacularem em mulheres em transportes públicos é a inexistência do sentimento de dor. Ele passa pelo processo de criação machista repleta de masculinidades retrógradas que mostra que uma ejaculação não pode causar algum tipo de dor.
Por isso, ele não considera esse tipo de comportamento uma violência, apenas um ato de extravasar seus sentimentos. É necessário fazer com que homens percebam que as violências, principalmente as sexuais, são provocadoras de dores, pois elas retiram das mulheres a dignidade.
A ejaculação em lugares públicos é uma forma de rebaixar a mulher a uma condição de inferioridade, pois ela não tem condições de se proteger. Ele aproveita e faz escondido. Para ele, o abusador, isso foi apenas uma ejaculada, uma satisfação pessoal.
Como garantir um futuro mais digno para as mulheres?
Como podemos mudar a concepção sobre prazer sexual? De que forma poderemos usar esses casos de violência sexual em transportes públicos contra mulheres para aprender a se prevenir, alterar este crime bárbaro?
Como podemos fazer novas leis que permitam as mulheres viverem mais seguras em relação ao sexo? Será que ainda vamos precisar de colocar a mãe, filha, esposa do juiz sentada no banco do ônibus para ele poder se conscientizar. E, se ao invés de colocar outra mulher sentada no banco do ônibus, colocar outro homem a conscientização viria mais rápido?
Futuro do Sexo, um choque necessário! #boracontribuirfs
Por Sérgio Barbosa
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