Quando ainda é tempo de nossos filhos serem crianças

No domingo almoçamos na casa da minha mãe; eu, meus filhos, irmãos, sobrinhos. É um evento! Um evento que acontece em diversas famílias. Nos reunir em volta do fogão, cozinharmos juntos, “bebericar” algo enquanto conversamos os mais diversos assuntos, assistimos TV…é uma forma de nos mantermos unidos.

Em um desses domingos, estávamos na sala de TV e o meu filho caçula que está com quase 11 anos de idade, interrompe o silêncio: -Vou perder a virgindade aos 17 anos!

Ele estava sério. Estava convicto de ter afirmado algo que realmente cumpriria. Continuou olhando para a televisão. Na TV não havia conteúdo que reportasse à sexo, nem nada parecido. Eu e meus irmãos, atônitos, esperamos um pouco, nos entreolhamos e eu realmente não sabia como agir. Eu não esperava ouvir isso dessa forma, tão descontextualizada e repentinamente. Perguntei então: – O que você disse?

E ele respondeu prontamente: – Não se preocupa, mãe! Até lá já estarei trabalhando e eu mesmo pago meu motel.

Cômico? mas não é!

Poderia ser um texto cômico, mas não é. Ele citou mesmo cada uma dessas palavras. Assim que fomos para nossa casa, fui conversar com ele. Na minha cabeça, eu pensava nas redes sociais. Meu filho, geração Z, nasceu conectado. A Internet, como nós pais sabemos, trouxe inúmeros benefícios, mas também é responsável por boa parte da nossa preocupação enquanto pais e mães. De qualquer forma, é algo que faz parte das nossas vidas, e como não há outro caminho, o melhor é nos prepararmos para essa realidade.

Diálogo, aberto, franco e transparente com os filhos é o melhor caminho

Continuo apostando que o diálogo, aberto, franco e transparente com os nossos filhos é melhor caminho. Quando uma criança fala de determinado assunto, ainda mais sobre sexualidade e afins, não podemos fingir que não ouvimos, dar “bronca” ou ironizar de alguma forma. Devemos ouvir e irmos construindo o pensamento junto deles, de forma que se sintam seguros e confortáveis para se abrir, questionar, e principalmente confiar.

 

Não é interessante mentir. Mas omitir alguns pontos, podemos. Cada idade merece uma resposta, um estímulo diferenciado, contextualizado. E o meu filho me mostrou que não ia adiantar muito me esquivar. E lá fomos nós para a conversa! Não eram as redes sociais. Eram os colegas de escola. Estamos cada vez mais sem saída. Protegemos, conversamos, explicamos. Vem um coleguinha e pronto!

 

Está plantada ali uma curiosidade ou uma dúvida. E não há como fugir. Eles vão ter acesso a diversas informações em qualquer ambiente que frequentarem. O meu foi na escola (nesse momento), mas poderia ter sido via internet ou na escola de futebol para citar alguns exemplos.

 

Filhos: cada vez mais rodeados de diversas formas de conhecimento

Onde há convivência, há trocas, há compartilhamento, ou seja – nossos filhos estão rodeados de diversas formas de conhecimento. É motivo de entramos em pânico? Não. Mas é preciso ter esse olhar atento, essa escuta preparada, e lembrar que estamos também constantemente informando nossos filhos do que é certo ou errado, não só com as conversas, mas com nossos exemplos, com as nossas ações.

 

Meu filho relatou um pouco do que sabia, conversamos até eu entender até que ponto ele ia e quais os seus questionamentos. Ele com a inocência ainda que a idade permite, tinha um olhar doce e ao mesmo tempo travesso.

 

Gostei da conversa, pois senti que ele confia em mim. Mas fiquei triste ao notar que os colegas da mesma idade que ele, cobram uma postura de “masculinidade”, onde eles devem falar de assuntos referentes ao sexo, devem já ficar com meninas, não podem chorar.

 

Meu filho comentou envergonhado, que ele ainda é B.V. (uma gíria que significa boca virgem – saber das gírias deles, é uma dica interessante, facilita a comunicação), mas que os colegas de sala não podem saber, senão vão ficar zombando dele. Toda essa pressão é muito preocupante e se essa criança não consegue recorrer a alguém, as consequências podem ser terríveis.

Importância da educação sexual

O episódio me fez refletir ainda mais sobre a importância da Educação Sexual, como comentei em outro post, o tema vai muito além do que os mais conservadores pensam sobre o assunto.

Precisamos tratar desses tópicos com as crianças justamente para que entendam que é tempo de ser criança, que é preciso respeitar o outro, que não é preciso provar nada a ninguém, deixá-los seguros…

Importante o conhecimento dos pais (e de todos os adultos) a respeito, para conseguirmos quebrar esse ciclo e trazer para um futuro bem próximo (de preferência), uma sociedade melhor; mais aberta a esse diálogo e mais sensível às essas questões.

#futurodosexo #somostodosresponsáveis

E você? Como vem tratando esses temas com seus filhos? Já se viu em uma situação parecida? Conte para a gente nos comentários abaixo!

Imagem: Visualhunt

Quando ainda é tempo de nossos filhos serem crianças

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- ...preferindo ser também uma metamorfose ambulante...