O Sexo e o Gênero para muito além da nossa imaginação

Na literatura, cinema ou nas mais populares peças de ‘ficção científica’, não se fala de monstros vampirescos. São as possibilidades de intervenção científica na natureza humana que suscitam enredos fantasmáticos que operam com o nosso medo do futuro.

Assim, os seres um tanto quanto surreais das obras góticas, monstros extraordinários como Dráculas e Gárgulas, passam a ceder espaço a outros tipos de ‘monstros futuristas’, como máquinas, ciborgues, cientistas e seus próprios experimentos.

Arriscaria dizer que o grande medo que as ficções científicas provocam é com relação a própria desintegração de nossas certezas mais humanas.

A paixão pelo gênero inumano em The Twilight Zone

Gênero

Assistindo a primeira versão da série de TV norte americana Além da Imaginação (The Twilight Zone), no episódio ‘O Solitário’ (The Lonely), temos um insólito caso de prisão espacial. Um homem que fora acusado de assassinato e condenado a viver o resto de sua vida isolado em um meteoro à deriva cósmica.

Uma missão militar terrestre chega periodicamente no local trazendo mantimentos e uma grande caixa. Na caixa misteriosa, aberta após a partida da missão, estava um robô; ou seria uma mulher? Na verdade, uma robô-companhia.

O prisioneiro se espanta, se sente ultrajado e acusa a máquina de ser inumana. Entretanto, a robô de “gênero feminino” vai se tornando cada vez mais humanizada pelo prisioneiro ao longo do tempo, que passa a vê-la como uma mulher e até se apaixona pela ginóide.

A ‘vida de casal’ ia bem no meteoro, até uma nova missão chegar no local com a notícia de que o nosso prisioneiro havia sido absolvido da acusação de homicídio que o condenara e que deveria voltar para casa.

Uma felicidade o assolou por completo, mas foi contraposta pela impossibilidade de poder levar sua companheira para a terra. O prisioneiro tenta convencer a tripulação de que a robô era mais que uma máquina, era ‘Alicia’, na verdade; sua companheira.

Esforços em vão. Em meio ao desespero do prisioneiro, o comandante saca sua arma e atira em Alicia, fazendo com que seu interior viesse à mostra. Fios e circuitos expostos, nos confirmando sua natureza não-humana.

A paixão que quebra os paradigmas de gênero

A ficção científica acaba por explorar nossas ansiedades contemporâneas ao projetar histórias de futuros possíveis e insólitos. O episódio de Além da Imaginação trabalha exatamente com o medo da possibilidade de que as barreiras do que constitui o humano possam ser quebradas e ressignificadas em novas relações.

Aqueles que hoje acusam de haver no Brasil uma ‘ideologia de gênero’, possuem também medo das mudanças dos parâmetros com relação à natureza do sexo e da sexualidade. Eles dizem que as bruxas do gênero enfeitiçam as crianças com suas mágicas e, então, nem menino nasceria mais menino ou menina nasceria mais menina.

Mas, na verdade, estão preocupados com experiências científicas em que pênis possuem formatos vaginais e que penetram e são penetrados por bocas e ânus, por prazer.

Será, então, que nosso gênero, nosso corpo e sexo não precisam ir além de nossas imaginações conservadoras? Será essa uma das lições da ficção científica para o futuro do sexo?

Mesmo que para isso tenhamos que entrar em curto-circuito à deriva no espaço!

O Sexo e o Gênero para muito além da nossa imaginação

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Sobre o Autor
- Inquietude reflexiva de um corpo cadeirante