Você não transaria com robôs sexuais, mas… e ciborgues?

Ciborgues. Em princípio, você pode pensar que este assunto é futurístico demais ou ainda que você jamais se sujeitaria a tal feito. Mas vamos aos fatos – apenas alguns, pois este tema daria um livro inteiro.

Primeiro, o movimento transumano começou há muitos anos atrás. O simples fato de usarmos óculos, por exemplo, pode ser entendido como uma tecnologia “plugada” em nós mesmos para potencializar algo natural de nosso corpo. Já parou para pensar como as pessoas com qualquer tipo de deficiência visual que demandasse o uso de óculos viviam antes da invenção dos mesmos?

Ah, ok, alguns ainda pensarão: mas neste caso não estamos potencializando nada, apenas corrigindo. Entendo. Mas e no caso de um marca-passo por exemplo? Não estaríamos interferindo e neste caso, potencializando inclusive, o tempo de vida de tal ser-humano na Terra? Será que a intenção de uma divindade maior (seja qual for a sua crença, se é quem tem uma) seria que este ser em questão tivesse de fato uma sobrevida? Já não estávamos, como humanidade, começando a interferir seriamente em questões que estão até hoje muito além de nosso entendimento, mas de alguma forma fomos coniventes com esta evolução ao longo dos últimos 100 anos?

Tecnologia, Biologia e Ciência combinadas: quem vai ignorar?

Talvez alguns não saibam, mas Bob Marley, por conta de sua filosofia rastafári – somada a preocupação com sua carreira, não permitiu se sujeitar a um tratamento médico necessário em prol de salvar ou no mínimo prolongar sua vida, amputando seu dedão do pé, já que entendia que o corpo é um templo que ninguém pode modificar. E nos dias de hoje, independente destas vertentes religiosas – que entendo que devam ser respeitadas – você se permitiria ou permitiria e apoiaria alguma pessoa muito próxima a sofrer intervenções médicas entendidas como um pouco mais invasivas para salvar, prolongar ou mesmo visar ao menos um pouco mais de qualidade de vida?

Seguirei na linha de raciocínio como se a sua resposta fosse sim – como me parece que seria a resposta da grande maioria da população mundial partindo do princípio que tivessem acesso e poder de decisão sobre tal fato.

Como saber se estamos nos relacionando com ciborgues ou não? As aparências enganam.

Estamos em transição, todos sabem disso. Um período único na história da humanidade – não apenas pelas mudanças em todos os setores e ambientes em si, já vivenciadas em outras épocas, mas pela magnitude e velocidade aliadas a tantas transformações simultâneas. Estaríamos entrando em uma era onde o tido como “normal”, “mediano”, “dentro da média” passa a ser cada vez mais chato e o diferente, único, exclusivo, passa a ser cada vez mais desejado, almejado?

Como acreditam que as crianças de hoje responderão esta questão daqui 15 anos? Estamos mesmo nos preparando para buscar entendê-las? Ou mesmo sem que nos demos conta, até mesmo pela correria do dia-a-dia, tendemos a orientá-las de acordo com os nossos valores atuais, que andamos nos questionando quase que diariamente se precisam de uma revisão urgente? E o impacto disto tudo em todo canto de nossa sociedade?

Para quem não conhece, esta aqui é Viktoria Modesta, modelo e cantora pop que decidiu amputar a perna esquerda em busca de uma melhor qualidade de vida e explorou esta questão acima como tema para seu videoclipe Prototype. Chocante para muitos, revolucionário (e muito corajoso) para tantos outros. Jovens do mundo todo conhecem sua história. E muitos se inspiram.

Imagem: obviousmag.org

Amy Palmiero-Winters, uma corredora americana que após um acidente e 27 cirurgias, decidiu pela amputação e adoção de uma prótese. Apenas como referência, antes do acidente a melhor marca dela em maratonas era 3:16:28’. Após a prótese e muito esforço dela e da equipe envolvida, sua melhor marca passou a ser de 3:04:16. Esta discussão a respeito das vantagens e desvantagens de pessoas com próteses high-tech se desempenhando melhor do que muitas outras com seus corpos sem intervenções deste tipo é relativamente recente e ainda vai dar muito o que falar. Outra corredora americana, chamada Aimee Mullins, que usa próteses em suas duaspernas, também questiona se Tiger Woods não deveria ser considerado super-humano devido a uma intervenção cirúrgica em seus olhos que lhe permitiu ter uma visão avantajada em relação aos demais competidores em um esporte em que a mira é essencial.

Ciborgues, Super-humanos: possíveis impactos nas relações em um futuro não tão distante

Se os brasileiros se sujeitam a cirurgias estéticas cada vez mais invasivas, mesmo cientes de todos os riscos envolvidos, chegando agora ao ponto de sermos líderes mundiais em cirurgias plásticas íntimas, porque demoraríamos para estarmos no topo da lista de próteses íntimas? A propósito, muito temos ouvido falar destas cirurgias para o público feminino, especialmente as jovens, porém no ambiente masculino elas também só crescem a cada ano. E por que pouco se evidencia este lado da estória também? Em um post recente que publicamos aqui, o especialista em Comunicação e Semiótica, Tiago Mota explora um pouco sobre o impacto da pornografia em nossa sexualidade, com especial atenção ao que vem ocorrendo com os homens.

Então, já que o brasileiro, de uma forma geral, é tão vaidoso e preocupado em melhorar sua performance sexual constantemente, imaginem quando as pessoas pararem de sonharem com membros mais belos e potentes e partirem para a realização deste sonho. Será que em breve as pessoas saudáveis desejarão substituir seus membros em perfeitas condições físicas por próteses cheias de super poderes sobre-humanos aliadas a um design incrível? O que leva uma pessoa hoje querer implantar chips em seu corpo para destrancar portas e ligar o carro por exemplo – e elas não param de aumentar?

Outra pergunta que me faço é: a principal motivação destes primeiros seres humanos se sujeitarem a estas experiências e vivências todas é de fato elevar o potencial de nosso organismo ou será que intrinsecamente, mesmo que não de forma consciente, seja uma atitude em busca de se destacar frente aos “concorrentes”? Não estou aqui para julgar, pelo contrário, quem me conhece sabe bem que eu acho que cada um que cuide de sua vida e se responsabilize pelas consequências de suas escolhas. Mas o ponto que procuro instigar aqui para que comecemos a refletir é: será que já não nos relacionamos com ciborgues, cientes disso ou não? E se isso ocorre sem que saibamos, será que nos relacionaremos com robôs sexuais muito mais rapidamente do que nosso pensamento culturalmente linear possa projetar?

Enquanto a genitália é um tabu… fica ainda mais difícil falarmos desse assunto. Mas difícil não significa que devemos ignorá-lo, pelo contrário. Em prol de todos contribuírem na construção de um futuro melhor, este choque se faz mais do que necessário.

#boracontribuirfs

#futurodosexo

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Imagem: https://giphy.com

Você não transaria com robôs sexuais, mas… e ciborgues?

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