Tragam seus filhos para ver pessoas nuas

As últimas semanas tem sido especialmente agitadas com discussões em torno de exposições, performances e arte em geral. E isso tem tudo a ver com o futuro do sexo.

São tempos em que nudez e sexo tendem a causar as mesmas reações nas pessoas: incômodo, resistência e controvérsia. O pensamento conservador em torno de conceitos tão básicos e naturais, como de pessoas nuas, tem nos empurrado em direção a um passado sombrio, onde desejo e castigo caminhavam lado a lado.

Sabrina Bittencourt é brasileira, porém do mundo. Artista, performer, libertária, cyborg, poliafetiva e mãe de três, visita o Brasil esse mês para, entre outras coisas, enfrentar essa onda conservadora apresentando parte da sua performance “Comer y Ser Comida” na exposição “Tragam seus filhos para ver pessoas nuas” que acontece em São Paulo.

Aproveitei a oportunidade para trazer um pouco dessa sua visão em torno do tema:

Qual a sua visão em relação a batalha que existe hoje contra pessoas nuas, em especial na arte?

É uma manobra tão medieval, que custa acreditar que em pleno século XXI num país ocidental estamos passando por isso. A população se deixa cegamente guiar por líderes criminosos que a rouba debaixo do seu nariz, criando distrações com seus “inimigos imaginários” (artistas), assim como foram as mulheres consideradas “bruxas” e queimadas com a conivência de reis, magistrados, religiosos, todos “homens de bem.”

Mais do que nunca precisamos oferecer educação artística em todas as camadas da sociedade e apoiar grupos vulneráveis. Por outro lado, a dor e a resiliência permitem a co-criação de iniciativas importantes como esta!

Considerando que boa parte dessa discussão por conta das últimas retaliações públicas à exposições Queer, a do MAM e agora do MASP, o que pretende trazer a exposição “TRAGAM SEUS FILHOS PARA VER PESSOAS NUAS” do qual tem a sua participação também?

TRAGAM SEUS FILHOS PARA VER GENTE NUA apresenta trabalhos de artistas visuais contemporâneos que se relacionam — de diversas formas, formatos, visões e linguagens — com o corpo e a nudez. A exposição com pessoas nuas nasce com urgência para afirmar a resistência da arte sobre este que se tornou seu mais recente campo de batalha.

O nome da exposição é inspirado na campanha de 2015 do Musée d’Orsay de Paris (repetida em 2017) que incentivava pais e mães trazerem seus filhos para conhecer as obras de arte — que, com ou sem classificação etária, jamais seriam censuradas.

Todos chegamos nus ao mundo, a exposição de pessoas nuas é natural a todos nós. E a arte e a educação, únicos caminhos para transformações duradouras na sociedade, não deveriam estar sujeitas a qualquer tipo de censura.

Como, na sua opinião, podemos combater esse moralismo?

Não precisamos usar “arte da guerra.” Precisamos ajudar a expandir mentes, convidando, cooperando, nos divertindo de forma livre, rápida e preferencialmente grátis (parafraseando o conceito de ludicidade espalhado por Edgard Gouveia).

Individualmente, expressando nossos sentimentos com qualquer ferramenta e elemento disponível. Cada um tem seu momento também. Tem gente que se sente cômoda agindo de forma passiva, outros gostam de ser lobos solitários, outros se sentem como pastores de grandes rebanhos e ainda há os que só observam. O mundo é muito grande! Só não podemos deixar que a indignação se transforme em medo.

Por fim, o que esperar da sua performance?

Comer y Ser Comida é uma provocação e um convite à reflexão do que estamos comendo, como comemos a Mãe-Terra e como somos consumidos por dentro por tudo o que decidimos comer. Seja de bom ou de ruim. O que a mulher dá de comer, o que o homem decide produzir pensando no capital em detrimento da saúde e como vozes são silenciadas com doenças ou fome. Ora posso representar a Mãe-Terra sendo comida, olhar a mulher que dá de comer do próprio corpo e de como nós comemos até virarmos pó.

É a primeira vez que vou apresentar no Brasil e será uma versão resumida do espetáculo. Cada vez é única e depende muito do público, suas formas de interagir. Em dezembro volto a apresenta-la em Barcelona, Granada e Índia em espaços alternativos e libertários.

Tragam Seus Filhos Para Ver Gente Nua

Performance: Comer y Ser Comida

Estudio Nu (https://www.facebook.com/estudionu.com.br/)

Rua Maria Paula, 122 conj. 1208 – São Paulo

11/11 às 21h30

 

E você, o que acha dessa discussão sobre pessoas nuas e de que forma podemos tratá-la de forma construtiva para criar novas perspectivas de futuro? Compartilhe nos comentários! Em momentos de reflexão toda contribuição é bem vinda!

#boracontribuirfs #futurodosexo

Imagem:

Divulgação exposição “Tragam os seus filhos para ver Gente Nua”

Tragam seus filhos para ver pessoas nuas

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