O preço de sentir prazer sem limites e o futuro do sexo

As civilizações futuras irão olhar para trás e ver todos os registros históricos dos seus antepassados, e sentir inveja deles, por eles terem presenciado o momento onde tudo começou.” – Kevin Kelly, autor de O Inevitável.

Há muitas histórias sendo co-criadas por bilhões de pessoas que estão conectadas na mesma rede .Cada post, like, reação é a demonstração mais profunda de como estamos sentindo naquele exato momento: prazer ou não.

Dentro da rede nossas emoções são “bits”. Portanto, dados emocionais coletados pelas organizações que operam essas redes. Nossos hábitos, relações, desejos e o prazer são influenciados pelos nossos clicks na rede.

No entanto, apesar das redes sociais influenciarem como pensamos, sentimos e agimos, ela ainda não é operada via ondas neurais.

Ou seja, emojis e reações podem ser a representação do que sentimos.  Mas,  é como ver um pôster com um copo de água gelada na rua, quando você está com sede, ou seja, apenas uma simulação daquilo que você realmente está sentindo.

Ética do acesso as nossas experiências emocionais

A questão que quero debater nesse texto é a ética do acesso as nossas experiências emocionais dentro do futuro do sexo.

Convido você a imaginar um cenário futuro em que novas interfaces neurais permitem o acesso direto a uma nova rede que capta o fluxo de sensações em forma de impulsos elétricos das pessoas.

Nesse momento, tente suspender as suas crenças e julgamentos e se permita imaginar como seria viver nesse cenário.

O que acontece quando as suas sensações mais íntimas estão abertas dentro da rede? Você se torna vulnerável ou mais autêntico e relevante?

Até que ponto você estaria disposto a compartilhar com o mundo aquilo lhe dá prazer?

Álbum de sensações das melhores experiências da vida

Hoje pela manhã, estava relembrando os melhores momentos das minhas férias do ano passado, em que pude vivenciar em algum nível o coração batendo mais forte ao voar de asa delta pela primeira vez.

Além do momento que conheci a Isa em um bar, e senti que seria um encontro especial. É emocionante poder re-sentir aqueles momentos mais profundos e viscerais, como um álbum de sensações das melhores experiências da vida.

Navegar nos momentos de outras pessoas dentro da rede mental, tem ajudado a mudar alguns hábitos ruins como beber e fumar. Cada vez que as minhas sensações são transmitidas na rede junto com outras mentes conectadas, é como se eu estivesse literalmente, no lugar delas. A reação dos meus pais e amigos mais próximos ao sentir um momento que foi gravado enquanto eu estava em situação crítica depois de uma noite de bebedeira na casa de uns amigos foi dolorosa, e me levou a parar completamente de beber e fumar.

Compartilhamento de sensações de prazer

Além disso, momentos de puro prazer, como o sexo, tem sido uma experiência transcendental, pois a partir do compartilhamento de sensações de prazer na rede é possível elevar o nível hormonal de cada pessoa ao nível máximo. Vivenciando algo próximo a um momento nirvana coletivo.

Tenho junto com parceirxs dentro de um grupo na rede mental um “banco de orgasmos” que proporcionam novos tipos de orgias através do estímulo neural impulsionado pela conexão em rede.

As redes sociais se tornaram “redes mentais” integradas a um sistema alimentado por sensações das pessoas conectadas ao Feel (interface neural). Cada pessoa tem um fluxo de momentos próprios que captam e registram determinada situação junto com as sensações naquele instante.

Lembro-me que no passado carregávamos um dispositivo no bolso para registrar nossos momentos. Agora, desde que começamos a adotar os implantes de retina junto as interfaces neurais, é possível captar momentos apenas com os nossos olhos e gravar as sensações que sentimos durante esses espaços de tempo.

Por conta do avanço exponencial do número de usuários que acessam a rede, os algoritmos passaram a filtrar momentos que possam sustentar o seu “bem estar” emocional.

Vida irreal e prazer

Um mês atrás, um episódio triste me levou a sair da rede. Eu percebi que o meu fluxo de momentos eram todos ligados a sensações de puro prazer, portanto uma vida irreal. Descobri isso ao encontrar a Isa em um almoço. Ela me contou que todos os momentos que ela tinha acesso eram, na verdade, “fabricados” com a finalidade de fazê-la se sentir bem, sendo ocultadas as situações ruins que a deixasse triste, ansiosa, com medo.

Em outras palavras, uma outra realidade estava sendo demonstrada, mudando completamente a forma como ela se relaciona na “vida real”.

A minha vida também estava sendo influenciada, pois não recebia mais momentos de alguns amigos super próximos, e não sabia o que tinha acontecido. Soube que um grande amigo estava passando por uma situação muito difícil, entrando em um nível de depressão absurda e sendo rotulado pelo sistema da rede como um usuário com nível emocional prejudicial ao “bem-estar” da rede. Fiquei sabendo ontem, pela Isa, que ele havia se suicidado. Poucos amigos haviam notado alguma coisa estranha, pois não tinham acesso aos momentos emocionais dele.

De volta à vida real

Estou de volta a “vida real”, desativei o meu Feel da rede mental e agora o utilizo de forma isolada para relembrar momentos importantes e poder receber sensações de pessoas queridas.

Me tornei também adepto a iniciativas hackers que tem uma filosofia que me identifico bastante – dar controle a cada usuárix das suas emoções através de uma rede totalmente distribuída chamada Feelsafe.

Sou parte de uma geração que rejeitou qualquer norma social e imposição de forças governamentais e grandes corporações. Nosso lema é transparência, fluidez e autonomia. Porém, no final, o ser humano é movido inteiramente pelas suas emoções mais profundas, e de repente o prazer constante estava ao alcance de qualquer pessoa que estivesse presente na rede mental.

Afinal, o que é liberdade?

Afinal, o que é liberdade? Cheguei a conclusão que não é sobre anarquia total ou a noção de estar quebrando correntes mas, a escolha consciente dos limites que fazem sentido dentro do que você é. Ser livre é aceitar a sua própria vulnerabilidade, dispor cada relação, emoção e intenção de verdade.

Um mês depois, cada registro emocional dentro da Feelsafe compõem páginas do “livro” da minha vida, para que eu possa sentir momentos marcantes e escolher com quem e quando eu quero compartilhar esses momentos.

Essa curta narrativa é parte de um cenário futuro das relações online. O objetivo foi levar você a pensar sobre questões importantes dentro do nosso tempo como ética e privacidade das relações em ambientes on-line, mas com uma perspectiva de futuro.

Hoje, temos vários avanços tecnológicos dentro da área de interfaces cérebros máquinas (BCI) em convergência com outra tecnologias como blockchain e computação cognitiva e, portanto as questões de neuroética precisam ser debatidas com mais veemência. Muitos especialistas acreditam que a mente humana é o próximo lugar de acesso a internet.

Se esse cenário fez você refletir sobre as implicações e desdobramentos nesse futuro, significa que você criou memórias de futuros.

#Obs1: A área do nosso cérebro em que são armazenadas as memórias, funciona como um órgão de “viagem no tempo” pois, tanto ele nos leva para o futuro, quanto de volta para o passado.

#Obs2: Esse artigo é parte de uma construção transmidiática que envolve outros dois textos: uma narrativa e outro sobre os aspectos da sua construção.

#Obs3: Essa narrativa foi construída através de um jogo de iluminação de possibilidades de futuros que parte da uma questão exploratória “e se”?

 #futurodosexo #boracontribuirfs

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Imagem: thumbs.mic.com

 

O preço de sentir prazer sem limites e o futuro do sexo

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