Cirurgia íntima: vamos falar a respeito?

Não é de hoje que a preocupação com a estética faz parte da história do Brasil. Estamos entre os países que mais realizam cirurgias plásticas no mundo, com as mulheres liderando essa prática e com um público cada vez mais jovem.

Tal busca pela “perfeição” chegou nas vulvas[1] já há algum tempo e hoje somos um campeão nessa estatística. Meninas de até 11 anos têm procurado os procedimentos de cirurgia íntima nos consultórios.

Principais tipos de cirurgia íntima na genitália feminina

Os seis tipos mais comuns são:

  1. Labioplastia ou Ninfoplastia que são as indicadas para reduzir os pequenos lábios – uma das mais procuradas;
  2. Redução do Monte de Vênus para quem tem muito volume no local (acima do púbis);
  3. Flacidez dos grandes lábios para quem tem excesso de pele ou flacidez;
  4. Clitorisplastia feita para remover excesso de pele, reconstituição do órgão ou má formação;
  5. Perinoplastia realizada após decorrências de parto normal;
  6. Reconstrução do hímen onde são unidos os pedaços restantes.

Em casos em que as intervenções são realizadas por questões de saúde, não há discussão, visto que a cirurgia íntima visa reduzir problemas recorrentes como infecções, irritações, dores durante a relação sexual, entre outros.

Mas, na maioria das vezes, a busca pela cirurgia íntima nos consultórios acontece por questões estéticas: e é aqui que podemos conversar, refletir e tentar esclarecer algumas informações a respeito.

A importância de se sentir bem com o próprio corpo

É interessante que todas as pessoas, em especial o público deste post, as mulheres, se sintam bem com o seu próprio corpo. Problemas em relação a isso podem causar baixa autoestima, traumas diversos, dificuldades em relacionamentos etc.

Se a pessoa está insatisfeita com alguma parte do seu corpo, se tem condições (financeiras, psicológicas e físicas) de fazer uma cirurgia íntima,  por que não?

O problema é quando essa insatisfação estética é condicionada por uma pressão externa (às vezes não direta) de que existe uma padronização para a vulva. Padronização essa imposta por uma sociedade que conhecemos bem e que ainda costuma levar em conta os filmes e vídeos pornográficos como modelo.

As redes sociais, principalmente para os jovens e adolescentes, têm um papel crucial nessa “ditadura da beleza” e acabam colaborando também para que esse quadro de ascensão das cirurgias estéticas, avance.

Outro forte colaborador é o próprio mercado: consultórios e produtos diversos relacionados, lançam comerciais e informações que visam conquistar esse nicho.

O que precisa realmente ficar claro é que não existe um padrão

Cada mulher é única. Parafraseando Raul Seixas, “cada um de nós é um universo”[2]. Não existe vulva perfeita ou igual a da atriz do filme, assim como não existe olho ou queixo igual.

Vamos ter lábios internos maiores, mais densos, mais finos, de diversas cores, formatos e tamanhos. Vamos ter poucos pêlos, muitos pêlos, monte de vênus exuberante ou não. Prepúcio avantajado ou que quase não aparece. Grandes lábios palpáveis, escassos…Cada uma diferente da outra… e que bom que é assim! Cada mulher do seu jeito, com a sua intimidade particular. Tudo perfeitamente desigual!

Quando alguns meios de comunicação fazem o desserviço de falar sobre a “vulva ideal”, pode-se ter um efeito perverso sobre algumas mulheres que estavam até então satisfeitas com o seu corpo (principalmente as mais jovens que ainda não estão totalmente maduras para lidar com o assunto). E se pensarmos bem, o que é ideal? Qual a conceituação do que é belo? O que é bonito para mim, pode não ser para o outro. Isso é tão claro e parece tão simples…mas infelizmente não é.

O diferente é belo!

Trabalhar a autoestima das mulheres nesse conhecimento de que o diferente é o belo não seria o caminho mais fácil para um futuro com maior aceitação e maior felicidade?

O primeiro passo, com certeza, é o autoconhecimento. Se tocar. Se ver. Se amar. O que nos faz pensar em um tabu que precisa ser quebrado também – desde meninas, ouvimos: não toque aí! Mas podemos e devemos nos tocar. Com essa pesquisa, acabei lendo inúmeros depoimentos de meninas que fizeram uma cirurgia íntima ainda jovens e depois se arrependeram. Além dos riscos que qualquer operação traz e que muito pouco se fala.

PS: Recomendo todxs visitarem a “The Vulva Gallery” e o “The Great Wall of Vagina” e descobrir por meio das imagens, vídeos e dos relatos, a beleza infindável da diversidade de vulvas.

 #futurodosexo #somostodosresponsaveis

E você? Gostou das reflexão de hoje sobre cirurgia íntima? Conhece alguma mulher que precisa refletir a respeito desse tema?

[1] O termo vagina é mais comum, mas é chamada vulva a área externa do órgão genital feminino.

[2] Da música “Meu Amigo Pedro”

Imagem: VisualHunt

Cirurgia íntima: vamos falar a respeito?

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- ...preferindo ser também uma metamorfose ambulante...