Os caminhos da nova sexualidade

Estamos numa era de muitos estímulos, desejos, significados e a sexualidade tem se tornado cada vez mais fragmentada para responder a tudo isso. Ou seja, traz novas necessidades e novos campos experienciais, dando espaço a novos mercados de práticas e serviços. A tecnologia  também vem como uma grande colaboradora para as mudanças, nossas vidas digitais transformaram nossas relações, tudo foi afetado.

Estas mudanças ocorreram rapidamente, num período de poucas décadas. O grande marco foi nos anos 60, quando a sexualidade diferenciou-se da reprodução e passou a ser um tema tratado por profissionais, e não só pelos discursos religiosos. A abordagem construcionista  definiu como questão compreender a sexualidade como fenômeno social, a desigualdade entre os sexos, a subordinação das mulheres, a discriminação sexual. A geração dos nossos pais, muitas vezes, ainda traz essa cultura em seu inconsciente, e por consequência nós também.

Mas e o Sexo?

Com toda essa mudança, estamos capacitando pessoas para abordar a atividade sexual nos termos em que acontece na vida cotidiana, especialmente em contextos de desigualdade, ou para trabalhar no contexto de saúde, nas escolas, nos ambientes de trabalho, nas comunidades? E como as pessoas lidam com o sexo na prática?

Pluralidade da cultura e formas de sexualidade aceitas

Pensando no contexto atual, a pluralidade da cultura e formas de sexualidade aceitas levaram à diferenciação das velhas categorias. Então, diferentes modos de respostas sexuais baseadas no gênero, antes categorizadas, hoje se definem e se diversificam como “estilos de vida”. Por conta da comercialização total destes campos (de sites, aplicativos, lojas especializadas, grupos e locais para práticas), o processo de dissociação cultural da nossa sexualidade conduziu à dispersão em grande escala de partículas, fragmentos, segmentos e estilos de vida. Este processo foi designado por muitos como a dispersão sexual.

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A consequência disso é a própria natureza (corpo, mente, espírito e emoções) fragmentada. Há o uso intenso da tecnologia no dia a dia, há busca de satisfação dos próprios desejos, estímulo sensorial, sedução, liberdade, ao mesmo tempo em que há a expectativa de fazer parte, relacionamentos duradouros, tolerância, intimidade, acolhimento e ainda autoconhecimento aliado à evolução espiritual. Todos numa oscilação sem ritmo, conexão ou muita consciência.

A busca pelo prazer imediato não capacita para lidar com frustrações. Afasta da tolerância. A facilidade e a rapidez em cruzar dados em redes de relacionamento, não permite lidar com o novo, desenvolver as próprias habilidades nas surpresas do afeto. A conexão da própria natureza parece não fazer mais sentido para alguns. A tecnologia, mídias e a velocidade das variações confundem. E a atual busca da espiritualidade, na prática, parece estar à margem das questões sexuais.

Perspectiva futurista

Numa perspectiva futurista, haveriam duas hipóteses, aquela em que a superficialidade toma conta, fazendo com que os relacionamentos sejam ilusórios, idealizados, e sejam recorrentes as famílias cibernéticas. Ou aquele em que nega-se a tecnologia e a subjetividade seja tão enfatizada que não será necessário o ato sexual para o prazer do casal, será frequente o poliamor, famílias poligêneras, etc. Qual o grau de autoconhecimento e de comprometimento envolvidos? Será que em ambas nos afastamos de certa forma da nossa natureza?

Há, portanto uma necessidade emergente de conscientização. A busca pela própria percepção e despertar de que somos seres relacionais e sexuais, capazes de expressar, de sentir e viver com saúde e espontaneidade. Podemos viver de forma integrada e celebrar com reverência e alegria nossa identidade profunda.

A ferida é por onde a cura entra. Um novo paradigma para o que se entende por Educação Sexual pode e precisa ser integrado a nossa formação pessoal e à das nossas crianças e adolescentes. É por isso que a psicologia, na área da sexologia, está se reinventando numa visão mais social, corporal e bioenergética, integrada e preventiva.

#boracontribuirfs #futurodosexo

Acho incrível que ainda há muito sobre o que falar, experimentar e descobrir! Vamos nessa?!

Imagens: 

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Os caminhos da nova sexualidade

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Sobre o Autor
- Psicóloga Clínica Biodinâmica e palestrante, empreendedora e interessada em inovação social.